EditorialRealidade, discurso e verdade: uma questão de consenso?Uma das questões fundamentais no campo da filosofia diz respeito à questão da realidade. É muito interessante como por muitos séculos, essa foi uma questão de muito debate, será que o que se consegue perceber realmente existe ou é uma cópia, metafisicamente vinda de algum lugar e presente na memória? Portanto, estamos diante de uma problemática que envolve muita coisa, mas, sobretudo, a questão da verdade. Alguns poderão dizer: “O que eu vejo é o que é!”. Mas será que poderemos ter certeza disto, quem pode garantir mesmo que não estamos nos enganando? René Descartes, um dos mais notáveis dentre os filósofos modernos, falou que a razão é o que nos pode dar a certeza, apresentando até um método (no seu brilhante livro, “O Discurso do Método”), estabelecendo um caminho que levou o ocidente cada vez mais para a autonomia da razão humana, procurando perceber o real e, na medida do possível, debater sobre a verdade. Porém, existem também muitas opiniões contrárias. Os homens trazem originalmente uma dificuldade muito grande para consensos mínimos que permitam, quem sabe, enfrentar melhor o cotidiano de cada um. Ficamos assim, em mundos diferentes, porém, imersos na realidade a qual, contudo, é uma só, para todos. No fundo, é a relatividade que marca presença, tudo depende do ponto de vista, do peso ideológico de quem fala, dentre outros aspectos. Dessa forma, em geral, o poder da mídia torna-se muito grande, porquanto procura trazer a realidade para todos. Os últimos acontecimentos da vida política nacional e até mesmo internacional corroboram esse entendimento. Quem fala a verdade no campo internacional ou nacional, em se tratando de política, por exemplo? Tanto na vida política nacional e na internacional, observa-se um esgotamento, de uma certa maneira, do fazer política, de pensá-la como expressão de uma sociedade. O velho discurso iluminista da cidadania parece muito esgotado, pois fica cada vez mais claro que, na maioria dos paises Ocidentais, encontramos uma dupla cidadania, uma com o peso ideológico escorado pelo peso financeiro e ditadora de uma certa realidade; outra não consegue jamais, mesmo sendo ampla maioria, colocar em prática sua versão da realidade, ou melhor, sua leitura do real, e, portanto, o que lhe sobra são algumas migalhas. Não pensemos que este é um problema do Brasil, tão somente, mas, sim, uma problemática internacional; basta uma breve pesquisa sobre os índices de abstenções em vários paises em eleições gerais e essa situação se mostrará claramente. Porém, filosoficamente, há algumas esperanças... E é precisamente o crescente enfado que vai tomando conta de todos, a rejeição implícita e explícita percebidas no semblante de cada um, algumas pequenas mudanças de participação do conjunto da população mais explorada a cada eleição, enfim, as manifestações que eclodem, aos poucos, aqui e acolá. Essa dupla situação coloca toda a reflexão filosófica em alerta, e é natural que isso ocorra, pois se torna imperioso novamente a falar sobre a realidade e a verdade, questões que permeiam todos os discursos desde as primeiras civilizações e que, no ocidente, mereceu especial atenção de alguns dos maiores pensadores. O filósofo alemão Emmanuel Kant concluiu que a verdade está nas coisas. Outro alemão, Hegel, por sua vez, afirmou que “o real é racional e o racional é o real”. Daí surgem ao menos duas questões: adotando o pensamento kantiano, conclui-se que ao homem cabe o papel, no que diz respeito à verdade, de tentar conhecê-la, posto que já é dada nas coisas. Por outro lado, pensando como Hegel, então caberia ao homem o papel de estabelecer a verdade, porquanto o real, ou verdadeiro, é o que a razão do homem estabelece. As questões aqui colocadas são, evidentemente, apenas embrionárias, porquanto a discussão desenvolve-se muito mais agudamente, principalmente entre os filósofos contemporâneos. Assim, fica feito, pois, o convite à reflexão sobre a realidade, a verdade e o poder do discurso, sobretudo nesses tempos em que a verdade cristalina de “ontem” não sobrevive ao “hoje” e os discursos mudam ao sabor dos hemisférios. |
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