Observador
Macroeconômico
Em mais 10 anos
(*) Valter Pereira Appas
Nos últimos meses a economia brasileira está demonstrando sinais cada vez mais inequívocos de recuperação, a consistência dos números não deixa dúvidas que a recessão que começou no final de 2002 finalmente terminou. O país já entrou e saiu de crises inúmeras vezes ao longo de sua história, porém desta vez as coisas estão bem diferentes e para melhor, estruturalmente. Apesar do crescimento as contas externas estão equilibradas, as exportações superam em muito as importações, garantindo superávits crescentes e engordando as reservas em dólares, condição sine qua non para a solvência externa. A inflação mantém-se sob controle atento da autoridade monetária, enquanto em termos fiscais, os gastos governamentais obedecem a uma severa rigidez, só encontrada nas austeras economias dos países da OCDE. Tudo isso significa que estamos prontos para um longo caminho de crescimento sustentado, que fatalmente nos levará ao limiar do 1º mundo em mais 10 anos, no máximo.
Parece otimista demais? Há 6 anos apenas, em 1998, telefone no Brasil era um drama, esse serviço, tão necessário, era escasso e caríssimo. Tínhamos entre fixo e celulares em torno de 20 milhões de linhas para 160 milhões de habitantes. Hoje só de celulares temos 57 milhões e de fixos 50 milhões, num total de 107 milhões de linhas para 180 milhões de habitantes. Apesar de vivermos nos lamentando o tempo todo, já temos cidades onde há 1 veículo para cada 2 habitantes, mais do que em muitos países do chamado mundo desenvolvido. Em 1970, tínhamos 250 mil jovens cursando as poucas universidades, hoje temos 4 milhões freqüentando centenas de campi pelo país afora. Tudo são flores então?
É claro que não, temos problemas e precisamos resolvê-los: erradicar o analfabetismo, incrementar os programas habitacionais, gerar ainda mais empregos. Mas pelo pequeno histórico narrado até aqui, alguém duvida que não vamos conseguir? As multinacionais e os grandes bancos que estão investindo bilhões de dólares no Brasil têm certeza que inexoravelmente o país chegará a um estágio avançado de desenvolvimento, paradoxalmente, são os brasileiros que demonstram ceticismo, talvez por desconhecerem a trajetória histórica do país nas ultimas décadas, talvez porque eles não tenham muito tempo para pensar sobre isso, afinal, o trânsito entre o trabalho e a faculdade está cada dia mais complicado e o celular não pára de tocar.
(*) Valter Pereira Appas, autor desta coluna, é historiador, especializado em História Econômica do Brasil, professor de Geopolítica e Economia