O PROCESSO DE LUTA DE CLASSES NO “MANIFESTO DO PARTIDO COMUNISTA”, DE KARL MARX E FRIEDERIC ENGELS.
Daniel Rodrigues de Lima[1]
O presente trabalho tem o objetivo de analisar como se forjou o conceito de luta de classes, desenvolvido por Karl Marx e Friederich Engels, na obra “Manifesto do Partido Comunista”. A metodologia de análise empregada no trabalho foi de revisão bibliográfica, onde se realizou estudo acerca da obra conjunta dos dois autores citados acima, além da obra de Max Beer “História do Socialismo e das Lutas Sociais”, em sua quarta parte.
O trabalho segue estruturado da seguinte maneira: 2) Manifesto do Partido Comunista: Breve análise da obra; 3) Max Beer e a História do Socialismo; 4) A Teoria da Luta de Classes; 5) Considerações Finais; e 6) Referências.
2- MANIFESTO DO PARTIDO COMUNISTA: BREVE ANÁLISE DA OBRA.
O Manifesto produzido sob encomenda, por Karl Marx e Friederich Engels para a Liga dos Comunistas, foi elaborado em 1848. Ano em que coloca a elaboração e publicação do documento envolto em um contexto histórico repleto de Revoluções Sociais, encabeçadas pela burguesia, na Alemanha e França, principalmente.
O conteúdo exposto no documento é variado. Sendo assim, podemos observar e analisar que Marx e Engels expressaram as seguintes ideias: O Materialismo Histórico, Teoria da Luta de classes e uma análise sobre a Literatura Socialista e Comunista até então (1848). Além de mostrar o posicionamento dos comunistas diante dos diversos partidos de oposição. Sobre o exposto acima se afirma: “Marx escreve com Engels o Manifesto do Partido Comunista, um documento que explicitava as crenças e os objetivos da Liga Comunista e que invoca todos os trabalhadores do mundo para uma luta comum.” ( RODRIGUES, 2012, p.17)
Enfim, Marx e Engels propõem no “Manifesto” a emancipação do homem com relação à exploração por outro homem. Aspirando um futuro em que não haja classes sociais, e com isso, ocorra à conquista do bem estar geral, o acesso de tudo o que é produzido através do trabalho a todos os membros da sociedade, além disso, a igualdade dos meios de produção e oportunidades é essencial nesta nova fase da sociedade que seria implantada.
3- MAX BEER E A HISTÓRIA DO SOCIALISMO.
O escritor Max Beer é um dos grandes estudiosos e pesquisadores na área do Socialismo e do Comunismo. Em sua obra “História do Socialismo e das Lutas Sociais”, o sociólogo mostra ações e organizações socialistas e comunistas. Além de sugerir a reconstruçãoda trajetória socialista e comunista ao longo do processo histórico ao evidenciar ideias e concepções.
Desta obra, realizou-se leitura e análise mais apurada de sua quarta parte, em que se assinalou a preocupação do autor em elaborar uma visão dos movimentos socialistas e comunistas: pré-Marx, contemporâneo de Marx e pós-Marx.
“História do Socialismo e das Lutas Sociais”, é de fundamental importância, principalmente a quarta parte, pois nos ajuda a compreender as principais influências de Marx e Engels para forjar ou construir ideias e práticas socialistas. Com isto apontou-se as críticas e posicionamentos dos pensadores e pôde-se observar os grandes debates teóricos e ideológicos, entre os admiradores e adversários dos autores.
Outra questão de interesse vital é que este texto nos fornece ampla visão acerca do contexto histórico social em que o “Manifesto do Partido Comunista” é produzido, ou seja, repleto de convulsões sociais, politicas, culturais e econômicas.
4- TEORIA DA LUTA DE CLASSES.
O trabalho pautou-se em analisar a visão acerca da “Teoria da Luta de Classes” desenvolvida por Marx e Engels em seu “Manifesto do Partido Comunista”. Buscou-se também compreendero tema na obra e através da visão do especialista e estudioso que foi Max Beer.
A “Teoria da Luta de Classes” ganha destaque no “Manifesto do Partido Comunista”, pois de acordo com Marx e Engels: “A história de todas as sociedades até os nossos dias é a história da luta de classes.” (2009, p.53)Existindo em toda História Humana antagonismos que põem em colisão exploradores e explorados ou dominados e dominantes.
Para entender melhor o que os dois autores sugerem com esta afirmação precisa-se conceituar o que vem a ser classe social.“Classe é uma camada social que desempenha determinado papel na produção. Os que vivem de um salário formam a classe operária. Os que vivem à custa do lucro, de juros ou rendimentos, formam a classe capitalista [...].” (BERR, 2006, p.513). Esta premissa contribui para análise proposta.
Diante do exposto acima por Beer, compreende-se que as classes sociais existem a partir de determinadas condições de produção. Em que o papel que desempenham no processo de produção e em suas relações sociais de produção determinam sua condição enquanto classe social, condição de explorador ou explorado, onde Marx e Engels informam:
Homem livre e escravo, patrício e plebeu, barão e servo, mestre e companheiro, numa palavra, opressores e oprimidos, sempre estiveram em constante oposição uns aos outros, travaram uma batalha ininterrupta, ora aberta, ora dissimulada, uma luta que terminava sempre com uma transformação revolucionária de toda a sociedade ou com a destruição das duas classes em luta. (2009, p.53-54)
A partir disso, observa-sea construção de uma ideia, através do método dialético de análise da sociedade desenvolvido por Marx e Engels. Em que buscam a compreensão de todas as sociedades e modos de produção (da Antiguidade até o Capitalismo). Visualizando a oposição entre opressores e oprimidos, dessa forma, eles verificaram que são os antagonismos entres as forças produtivas e as relações de produção (quando estas estão em estagio desenvolvido),que geram conflitos entre proprietários e não proprietários dos meios de produção, revolucionando ou transformando as bases da sociedade, inclusive nas relações entre a infraestrutura (base econômica) influenciando na superestrutura (politica, direito, instituições etc.).
Estudando a fundo a sociedade capitalista e o modo de produção capitalista, Marx e Engels salientam a existência de duas classes antagônicas, porém até certo ponto interdependentes, onde temos:
Na mesma medida em que a burguesia cresce, isto é, o capital, também se desenvolve o proletariado, a classe dos operários modernos, os quais só vivem enquanto encontram trabalho e só encontram trabalho enquanto seu trabalho aumenta o capital. [...]. (MARX;ENGELS, 2009, p.61)
Essa existência reciproca entre opressores e oprimidos, exploradores e explorados é que faz com que ocorram transformações e mudanças nas relações de produção. Pois burgueses e proletários possuem antagonismos inerentes as suas condições de trabalho nas relações sociais de produção, e diante deste pressuposto: “[...] os choques individuais entre o operário e burguês assumem cada vez mais o caráter de conflitos entre duas classes. [...] Aqui e acolá a luta explode em revoltas.” (MARX; ENGELS, 2009, p.64)
Dessa forma, Marx e Engels, enxergam o proletariado na sociedade capitalista como elemento contraditório nas relações de produção vigentes. Este deve ser o elemento a forjar o novo, a mudança, a transformação revolucionária, primeiro com a socialização dos meios de produção para depois atingir-se o Comunismo, em que de acordo com Beer:
[...] A classe capitalista procura manter a ordem existente. O proletariado luta pela transformação da vida econômica e social, no sentido socialista. Ao chegar a certo limite de amplitude e intensidade, a luta de classes adquire inevitavelmente caráter político. O seu objetivo imediato é a conquista do poder.[...]. (2006, p. 514)
Com isso, a mudança ou transformação revolucionária do modo de produção deve estar intimamente ligada com a conquista do poder politico e econômico por parte do proletariado. Pois uns querem tê-lo para manutenção do status quo (burguesia), outros buscam conquistá-lo no sentido de transformar sua condição socioeconômica (proletariado). E com isso, destruir as relações de opressão, submissão e exploração presentes na sociedade capitalista burguesa. Em que de acordo Maysa Rodrigues:
Em Manifesto Comunista, Marx e Engels apresentam o que para eles seria o conflito fundamental- o antagonismo entre burguesia e o proletariado- e analisam o desfecho dessa luta apostando em uma revolução do proletariado. Essa revolução, por sua vez, culminaria no fim da burguesia, no encerramento da organização da sociedade em classes e na abolição da exploração dos homens por outros. (RODRIGUES, 2012, p. 19)
Marx e Engels informam que para a conquista do poder e consequentemente a transformação do modo de produção e das relações produtivas, a classe social oprimida, no modo de produção capitalista. O proletariado moderno deve se constituir enquanto organização ou partido, além de haver consciência de classe, pois:
[...] Se o proletariado, em sua luta contra a burguesia, se constituir necessariamente em classe, se se erigir por meio de uma revolução em classe dominante e, como classe dominante, destruir pela violência o antigo regime de produção, então destrói, juntamente com esse regime de produção, as condições de antagonismo das classes, destrói as classes em geral e, com isso, sua própria dominação de classe. (MARX; ENGELS, 2009, p. 82)
Diante disso, os proletários deveriam se compreender enquanto sujeitos no processo das relações sociais de produção, dessa forma, se entenderiam a partir da exploração a qual estavam submetidos na sociedade capitalista, além dos comportamentos culturais e hábitos comuns existentes em suas relações sociais, politicas e econômicas, ou seja, a busca por interesses comuns entre os indivíduos que a formam. Corrobora com o que se acaba de afirmar George Luckás, em sua obra “Consciência de Classe”, onde informa:
Tão simples é, contudo, para o proletariado, a relação entre a consciência de classe e a situação de classe, em razão da essência das coisas, quanto são grandes os obstáculos que se opõem à realização dessa consciência na realidade. Aqui, de início, tudo entra na linha de conta da falta de unidade na própria consciência. De fato, embora a sociedade represente em si uma unidade vigorosa e que seu processo de solução seja igualmente um processo unitário, ambos não são dados como unidade à consciência do homem, em particular do homem nascido no seio da reificação capitalista das relações como em um meio natural. Ao contrário, são dados como uma multiplicidade de coisas e de forças independentes umas das outras. (LUCKÁS, 2004, p. 21)
A formação ou constituição do proletariado, enquanto classe ou partido deve visar à conquista do poder econômico e politico. Satisfeita esta necessidade, implanta-se a “Ditadura do Proletariado” que será responsável por instaurar a socialização dos meios de produção e, a partir de então, a implementação do Socialismo, visto como um Estado em transição entre a sociedade capitalista e a sociedade comunista:
Entre a sociedade capitalista e a sociedade comunista medeia o período da transformação revolucionária da primeira na segunda. A este período corresponde também um período político de transição, cujo Estado não pode ser outro senão a ditadura revolucionária do proletariado. (MARX, 2014, P.13)
Marx e Engels salientam o papel da educação como elemento importante neste processo, como forma de propagação das ideias revolucionárias. Pois: “[...] As ideias dominantes de uma época sempre foram apenas as ideias da classe dominante.” (2009, p. 79), entretanto as ideias e ações revolucionárias levarão a sociedade ao modo de produção Comunista, em que sobre a dissolução da sociedade capitalista temos: “[...] tudo que possuía solidez e estabilidade se volatiza, tudo o que era sagrado é profanado, e os homens são finalmente obrigados a encarar com o olhar lúcido suas condições de existência e suas relações reciprocas.” (2009, p.58)
Enfim, Marx e Engels, buscaram através da Teoria de Luta de Classes explicarem a dinâmica de um determinado modo de produção a outro totalmente novo. Por meio da sociedade capitalista, burgueses e proletários possuem interesses antagônicos, rivalizando entre si.
O proletariado organizado em partido ou classe e com consciência de sua condição, possibilitaria a conquista revolucionária do poder, implantado a “Ditadura do Proletariado” e o Socialismo, para posteriormente chegar-se ao Comunismo, sociedade sem classes sociais, dessa forma, Marx e Engels conclamam: “[...] Que as classes dominantes tremam diante de uma revolução comunista! [...] Proletários de todos os países, uni-vos! (2009, p.103).
E dessa forma, Marx e Engels, concluem o Manifesto fazendo um apelo para a união do proletariado, mas não uma união qualquer, e sim de forma consciente, e a partir disso possibilitar mudanças estruturais nas condições concretas de existência, proporcionando uma sociedade justa e igualitária, sem conflitos e antagonismos socioeconômicos.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O pensamento Socialista e Comunista, principalmente proposto por Marx e Engels, é atual. Consagrando a obra de Max Beer,“História do Socialismo e das Lutas Sociais”, como fundamental para compreensão das ideias e da nossa sociedade atual já que muitas das reivindicações sociais do nosso cotidiano são baseadas nos conceitos de Marx e Engels. A obra de Beer é referencia no que tange ao Socialismo e Comunismo.
O “Manifesto do Partido Comunista”, pode ser considerado um clássico da Literatura e das Ciências Sociais. Pois é um documento histórico de extrema relevância que influenciou e influencia diversas gerações, onde tal documento histórico traz a tona um momento revolucionário na história Mundial, as Revoluções Burguesas de 1848.
Por fim, estudar Socialismo e Comunismo tem sua importância ainda hoje. Haja vista que as reflexões buscam construir sociedades mais justas e igualitárias, apesar do Socialismo Real (URSS, China, Cuba e etc.) não mostrar isso. Entretanto há de se evidenciar que as ideias de Marx e Engels empregadas em todos os seus princípios possibilitariam condições melhores em sentidos: econômicos, sociais, políticos e culturais para a sociedade como um todo.
REFERÊNCIAS
BERR, Max. História do Socialismo e das Lutas Sociais.Trad.: Horácio de Melo. 1ª ed. São Paulo: Expressão Popular, 2006.
LUCKÁS, George. Consciência de Classe. 2004. Disponível em: http://www.simerj.org.br/arqs/materia/34_a.pdf. Acessado em: 20 de junho de 2014.
MARX, Karl; ENGELS, Friederich. Manifesto do Partido Comunista. 2ª ed. São Paulo: Editora Escala 2009.
MARX, Karl. Crítica ao Programa de Gotha. Disponível em: http//www.ebooksbrasil.org/adobeebook/gotha.pdf. Acessado em: 12/01/2014.
RODRIGUES, Maysa. O Legado de Marx. In: Karl Marx:Coleção Guias de Filosofia. Ed. 1. São Paulo: Editora Escala, 2012, pp. 14-23.
[1] Professor da disciplina de História do Centro de Educação do SESC-AM José Roberto Tadros. Graduado em Licenciatura Plena em História pelo Centro Universitário Leonardo da Vinci-UNIASSELVI. Especialista em Ensino de História pela UNIANDRADE. Membro da Associação Brasileira de Educação a Distância-ABED.