NA MORALIDADE RESIDE ALGO DE MÁ CONSCIÊNCIA?
JOSÉ CARLOS SILVA ROCHA COSTA
Licenciado em Filosofia – (UESB)
Mestrando em Filosofia – (UFBA)
Introdução
Quem é capaz de imaginar, caro leitor, que o fundamento da sua moralidade reside na má consciência? A história da ética tem a tendência de mascarar e até mesmo negar a existência dessa ligação entre a exigência de um gesto nobre atual cujo fundamento reside em um gesto nada nobre de um antepassado. No que segue, eu gostaria de apresentar a partir da leitura genealógica realizada por Nietzsche, os elementos fundamentais que estruturam a moral ocidental. Não se trata de reparar aspectos da ética historicamente desejada, calcada na racionalidade dos costumes e a consequente elevação destes a um fundamento moral universal como encontramos na filosofia de Kant.
O empreendimento aqui é mais modesto e visa expor a ligação entre o fundamento da moral e a ligação ancestral com a culpa, tentativa perpétua de introjetar valores espirituais que, na origem, foram impulsos naturais.Estes impulsos, uma vez espiritualizados e constantemente apresentados como valores, isto é, oriundos da interpretação judaico-cristã,resultou, segundo Nietzsche, na alienação da vidanatural cujo traço mais evidente é o seu aspectohistórico e falível. Nesta leitura, se faznecessário reconhecer e admitir que a má consciência é um componente constitutivo da moralidade ocidental.
Da dívida à culpa: a moralidade do costume
No livro Genealogia da moral, na segunda dissertação, Nietzsche apresenta uma reflexão sobre a gênese da psicologia moral e o seu desdobramento negativo para a cultura moderna, enquanto falsificação da natureza de nossa história cultural. A origem da consciência moral não é tratada com o característico pano de fundo metafísico, como a “voz de Deus no homem”, e sim exposto sob outro ângulo:o da relação entre o instinto de crueldade como substrato mais básico da cultura e a impossibilidade de descarregar os referidos instintos devido àsnormas sociais.
Para o filósofo alemão, a origem da consciência moralé indissociável do sentimento de culpa. Ele chama a atenção para a palavra alemã “culpa” (Schuld) e liga o surgimento desse conceito à noção bem material de “dívida” (Schuld), que também guarda o significado de “culpa”. Este sentimento precede, genealogicamente falando,ao conceitode culpa em seu sentido religioso e é descrito por Nietzsche como moralidade do costumeno aforismo§9desua obra Aurora:reflexões sobre nossos preconceitos morais.
A moralidade docostume, como Nietzsche a descreve,é a forma primitiva de qualquer moral,reporta à condição do indivíduo em obedecer a costumes estabelecidos por uma instância superior, isto é, à tradição deuma comunidade primitiva,que remonta a tempos imemoriais nosperíodos iniciais da cultura.Os costumes tradicionaissão descritos por Nietzsche,como uma maneirajurídica própria,em que os indivíduos que desobedecem às leis comunitárias são punidos. Essapré-história da moralidadeque, por seu distanciamento histórico,só pode ser pensada de maneira hipotética, teriadesenvolvido,nos primeiros grupos humanos,a capacidade de obediência aos costumesda tradição.Neste sentido, a moralidade é pensada como marco fundador da civilidade.
A moralidade não é outra coisa (e, portanto, não mais!) do que obediência a costumes, não importa quais sejam; mas costumes são a maneira tradicional de agir eavaliar.[...].O que é a tradição? Uma autoridade superior, a que se obedece não porque ordena o que nos é útil, mas porque ordena(NIETZSCHE, 2004, p.17, grifos do autor).
A consciência moral e a relação psicológica de sentimento de culpa e má consciência, para Nietzsche, surge a partir de um longo processo histórico de forjarmemória, responsabilidadese a capacidade de fazer promessas no animal homem.Foi na relação rudimentar entre credor e devedor queo filósofoentreviu a origem da consciência moral, na esteira da tarefa que a natureza paradoxalmente reservou para o animal homem, isto é,forjá-lo com a capacidade de prometer e se tornar um animal responsável.
Criar um animal que pode fazer promessas- não é esta a tarefa paradoxal que a natureza se impôs, com relação ao homem? Não é este o verdadeiro problema do homem? ... O fato de que este problema esteja em grande parte resolvido deve parecer ainda mais notável para quem sabe apreciar plenamente a força que atua de modo contrário, a do esquecimento(NIETZSCHE, 1998, p.47, grifos do autor).
Contra a força animalesca do esquecimento, a moralidade do costume significou o aparecimento de uma memória duradoura,cuja origem Nietzscheenxergana relação de promessa “contratual” entre credor e devedorem um Estado primitivo.O fundamento dessa relação se baseava na confiançado credor ena promessa do devedor,isto é, na crença de que em um momento oportuno adívida seria restituída. Caso o devedor não honrasse com o “contrato” de restituir ao credor o pagamento da dívida, a punição pela transgressão da promessaestava implicada em toda transação social: o devedorconcedia ao credor a possibilidade de substituir a dívida por um castigo físico, ou seja,ofertaria ao credor o direito de exercer a crueldade sobre ele. O pressuposto antropológico é evidente: a memória de punições dolorosas impelia o devedor a não transgredir às leis, portanto, aos costumes.
Salientamos, que na origem genealógica proposta por Nietzsche, nesseprimeiromomento, ainda não existe a noção moral de culpa (Schuld), mas, tão somente, a noção normativa entre credor-devedor nas primeiras relações sociais, distanciada de qualquer noção de livre-arbítrio.A punição não se fazia valer na ideia de que o transgressor poderia ter escolhido diferente. A punição tinha como objetivo sanar, através da aplicação da dor, um dano: acalmar a ira do credor estabelecendo uma equivalência considerada compensatória.
A espiritualização dos impulsos
Na segunda dissertação da obra Genealogia da moral, Nietzsche defendea tesesegundo a qualo prazer em infligir castigosfoi um elemento central nas antigas formas de compensaçõesdo direito pessoal.A compensação se dava através do exercício da crueldade,por parte do credor, que se elevavapsicologicamente em relação ao devedor, atrelado a satisfação em ver o devedor desprezado e maltratado.
Na medida em que fazer sofrer era altamente gratificante, na medida em que o prejudicado trocava o dano, e o desprazer pelo dano, por um extraordinário contraprazer: causar o sofrer– uma verdadeira festa, algo, como disse, que era tanto mais valioso quanto mais contradizia o posto e a posição social do credor (NIETZSCHE,1998, p.55, grifos do autor).
Com a possibilidade da punição, torna-se possível a exteriorizaçãoda crueldade que apareceem um primeiro momento como má consciência animal, herança de nosso passado primitivo:“ver-sofrer faz bem, fazer sofrer mais bem ainda – eis uma frase dura, mas um velho e sólido axioma, humano, demasiado humano[...]”(NIETZSCHE, 1998, p.56).Para além de poder infligir dor, era importanteter permissão para exercer o poder sobre os que não tem poder,“[...] embora o credor possa não ser um tipo mestre, ao punir ele ‘toma parte nos direitos dos mestres’é fortalecido ao demonstrar poder sobre um ‘inferior’” (HATAB, 2008, p. 86). Infligir dor em alguém equivalia a uma elevada experiência de poder nessas práticas antigas.
Nietzsche destaca o caráter festivo das demonstrações públicas de puniçãona antiguidade.A exemplo dos diversos castigos públicos medievais edas puniçõesnoColiseu romano, esses eventos eram frequentemente experimentados com celebração e entusiasmo, fato que para nós modernos seria um espetáculo moralmente mórbido.Se reunir exclusivamente para ver sofrer, como em uma final de campeonato, fazendo valer a exteriorização do nosso impulso bestial de crueldade.Mas a pergunta que permeia toda a Genealogiae para a qual Nietzsche propõe uma reflexão interessante, é formada assim:esse “animal cruel e feroz” foi domesticado? Se sim, o impulso de crueldade desapareceu do animal homem? A resposta do filósofo alemão propõequeo impulsode animal de rapina foi apenas espiritualizado, mas ainda se faz presente.
Quase tudo a que chamamos “cultura superior” é baseado na espiritualizaçãoe no aprofundamento da crueldade — eis a minha tese; esse “animal selvagem” nãofoi abatido absolutamente, ele vive e prospera, ele apenas — se divinizou. O queconstitui a dolorosa volúpia da tragédia é a crueldade; o que produz efeito agradávelna chamada compaixão trágica, e realmente em tudo sublime, até nos tremoressupremos e mais que delicados da metafísica, obtém sua doçura tão só do ingredientecrueldade nele misturado (NIETZSCHE, 1992, p.135, grifos do autor).
O termo “espiritualização”, na filosofia de Nietzsche, não carrega o sentido de negação do mundo sensível, tampouco a noção platônica de elevação ao mundo suprassensível.O referido termose inserena relação psicológica entre o tratamento dos impulsos agressivos e a vontade de erradicar ou internalizar tais impulsos,uma característica típica da visão ascéticaque encontra no corpo e nos impulsos, o âmbito do pecado.
Atento àsmanifestações psicológicas do homem moderno, Nietzsche observa que a crueldade não se restringe apenas ao ato dever sofrer, mas também,à crueldade auto infligida das práticas religiosas.“Há também um gozo enorme, imensíssimo, no sofrimento próprio, no fazer sofrer a si próprio” (NIETZSCHE, 1992, p.136). Nietzsche se refere às práticas religiosas de autonegação e autoflagelação, à repressão de impulsos sexuais, às penitências puritanas, entre outras,como exemplos de manifestações secretas do impulsode crueldade, voltado, desta vez, contra si mesmo. Podemos depreender daí que, a partir das crueldades físicassustentadas pelas relações jurídicas das primeiras sociedades, semoldaram as primeiras normas sociais – o surgimento da moralidade dos costumes e a psicologia moral.
Segundo Nietzsche, foi esse o ambienteque possibilitou a modificação do impulso de crueldade,mediante a interiorização e a espiritualização das práticas de castigo em valores morais. As modificações posteriores da cultura tomaram como base as transformações do impulso de crueldade, cujastransformaçõesfísicas assumiram gradualmenteaspectos espirituais.Em resumo, a acepção moral que é designada na palavra “culpa”, para Nietzsche, é um desdobramento histórico da noção de “dívida”, a partir de uma relação primitiva entre credor e devedor.
Má consciência e alienação da vida natural
Aorigem da consciência moral, na interpretação de Nietzsche,ocorre mediante ainteriorização dos impulsos agressivos decorrentes de uma organização social previamente estabelecida. Em meio à pressão das regras internas de uma sociedade primitiva, aqueles instintos agressivos, que antes eram descarregados para fora, voltam-se contra o próprio sujeito. Essa introjeção do aspecto agressivo está na origem daformação da consciência moral.
Todos os instintos que não se descarregam para fora voltam-separa dentro – isto é o que chamo interiorização do homem; é assimque no homem cresce o que depois se denomina sua “alma”. Todo omundo interior, originalmente delgado, como que comprimido entreduas membranas, foi se expandindo e se estendendo, adquirindo profundidade,largura e altura, na medida em que o homem foi inibido emsua descarga para fora. Aqueles terríveis bastiões com que a organizaçãodo Estado se protegia dos velhos instintos de liberdade – os castigos,sobretudo, estão entre esses bastiões – fizeram com que todos aquelesinstintos do homem selvagem, livre e errante se voltassem para trás,contra o próprio homem (NIETZSCHE,1998, p.73, grifos do autor).
A doença da má consciência,surgiuapós a besta homem ser “domesticada”, como consequência da interiorização de instintos agressivos. Como apontado anteriormente, a consciência moral surgiu no animal homem após um longo e doloroso processo de criação de memórias, produção de promessas e adoção de responsabilidades. Foi nesse momento que os instintos mais inconscientes da vida natural, próprios ao animal selvagem, tiveram que ser sacrificados em nome do bem-estar e da paz da organização social. Em O mal-estar na civilização, Freud discute a origem da consciência moral e sua concepção se aproxima do mecanismo apontado por Nietzsche em sua Genealogia,isto é, o da interiorização de instintos agressivos em nome da conservação de uma comunidade previamente organizada.
O que sucede nele, que torna inofensivo o seu gosto em agredir? Algo bastante notável, que não teríamos adivinhado e que, no entanto, se acha próximo. A agressividade é introjetada, internalizada, mas é propriamente mandada de volta para o lugar de onde veio, ou seja, é dirigida contra o próprio Eu. Lá é acolhida por uma parte do Eu que se contrapõe ao resto como Super-eu, e que, como “consciência”, dispõe-se a exercer contra o Eu a mesma severa agressividade que o Eu gostaria de satisfazer em outros indivíduos [...].A civilização controla então o perigoso prazer em agredir que tem o indivíduo, ao enfraquecê-lo, desarmá-lo e fazer com que seja vigiado por uma instância no seu interior, como por uma guarnição numa cidade conquistada (FREUD, 2011, p.69, grifos do autor).
Nietzsche continua a empregar a relação credor-devedor para estabelecer a relação de contiguidade entre má consciência e teologia. A reverência aos antepassados foi o gesto que moldou a ideia de sucesso das gerações futuras no mundo. Quanto mais sucesso as sociedades atingiam, mais glorificavam as figuras de seus ancestrais, concedendo-lhes o statusde semideuses. A convicção prevaleciamediante a ideia de que o sucesso de uma sociedade tinha como causa os sacrifícios e as realizações de seus antepassados. Como podemos notar, a necessidade dos sacrifíciosse reconhece e se justificaatravés de uma dívida (Schuld) para com a divindade, e com ela o medo diante do poder do ancestral.
Esta suspeita permanece e aumenta: de quando em quando exige um imenso resgate, algo monstruoso como pagamento ao “credor” (o famigerado sacrifício do primogênito, por exemplo; sangue, sangue humano, em todo caso). Segundo esse tipo de lógica, o medo do ancestral e do seu poder, a consciência de ter dívidas para com ele, cresce necessariamente na exata medida em que cresce o poder da estirpe, na medida em que ela mesma se torna mais vitoriosa, independente, venerada e temida (NIETZSCHE, 1998, p.77, grifos do autor).
Com o advento do Deus cristão, “o Deus máximo até agora alcançado, trouxe também ao mundo o máximo de sentimento de culpa” (NIETZSCHE, 1998, p.79). Pois o ancestral, Adão, não é mais reverenciado, mas sim o lugar do “pecado original”. Nietzsche chama de “toque de gênio” do Cristianismo a responsabilização humana pelo pecado original, isto é, a culpa e a dívida que não podem ser quitadas na terra, relação estabelecidaquando Deus se autosacrifica pelas dívidas dos homens na figura de Cristo.
Até que subitamente nós achamos ante o expediente paradoxal e horrível no qual a humanidade atormentada encontrou um alívio momentâneo, aquele golpe de gênio do cristianismo:o próprio Deus se sacrificando pela culpa dos homens, o próprio Deus pagando a si mesmo, Deus como o único que pode redimir o homem daquilo que para o próprio homem se tornou irredimível – o credor se sacrificando por seu devedor, por amor (éde se dar crédito?), por amor a seu devedor!... (NIETZSCHE, 1998, p.80, grifos do autor).
No percurso genealógico que Nietzsche descreve da má consciência, ela é inicialmente animal, sem atributos de consciência moral. “Uma matéria-prima que só ao fim de um longo processo adquirirá o aspecto moral de uma consciência de culpa, depois de entendida religiosamente como pecado” (ITAPARICA, 2011, p.18). A interiorização da dívida e da culpa culminou na má consciência elevada ao mais alto grau na divisão binária da realidade no pensamento cristão, entre a vida natural e o aspecto sobrenatural que supostamente a compõe: por conseguinte, a interpretação binária moralista do sacerdote ascético entre a vida terrena, intrinsecamente pecaminosa e a perfeição divina da vida transcendente e virtuosa.
Apenas nas mãos do sacerdote, esse verdadeiro artista em sentimentos de culpa, ele veio a tomar forma – e que forma! O “pecado”–; pois assim se chama a reinterpretação sacerdotal da “má consciência” animal (da crueldade voltada para trás) – foi até agora o maior acontecimento na história da alma enferma: nele temos o mais perigoso e fatal artifício da interpretação religiosa (NIETZSCHE, 1998, p.129, grifos do autor).
O sacerdote ascético foi o responsável por persuadir o doente a encontrar a causa de seu sofrimento,seguindo a lógica do pastor: “eu sofro: disso alguém deve ser culpado” – assim pensa toda ovelha doente. Mas seu pastor, o sacerdote ascético, lhe diz: “Isso mesmo, minha ovelha! Alguém deve ser culpado: mas você mesma é esse alguém – somente você é culpada de si!...” (NIETZSCHE, 1998, p.117).
Com a explicação da “causa” do sofrimento, o sacerdote aliviou a condição do doente. Aliviar não é o mesmo que curar. O resultado foi esse:“Transformou a fera em ‘pecador’: tornando-a culpada pela existência de seus próprios impulsos ‘bestiais’, suas mais fortes pulsões, o sacerdote pôde domá-la e tomá-la a seu serviço” (GIACOIA, 2013, p.140-141). A mortificação do corpo constitui, justamente, esse redirecionamento da violência e da culpa descarregada sobre si mesmo e acomodação psicológica ao rebanho do sacerdote.
O animal homem sofre porque se sente culpado por sua natureza pecadora e por suas transgressões contra Deus. “Não é apenas que as nossas ações sejam ‘más’, mas que são expressões da natureza caída, da ‘pecaminosidade’ e da ‘depravação’” (ELGAT, 2017, p.102), noções que confirmam o sucesso histórico do ideal ascético para a existência humana, como sintoma de enfermidade e alienação da vida natural.
Conclusão
Má consciência, para Nietzsche,é sinônimo de sentimento de culpa:significa ter consciência interna que cometeu um erro e a responsabilidade tê-lo cometido. A proposta de Nietzsche é que os instintos naturais agressivos foram interiorizados e forjaram um tipo psicológico novo. Esse tipo psicológico é equivalente a uma “doença” psíquica que trava uma guerra contra os instintos vitaise saudáveis. Após ser transformado em animal moral, oanimal homem, por não ter inimigos externos e não poder exteriorizar seus impulsos agressivos,se vê obrigado a maltratar-se.Desta forma, o advento das crenças religiosas ocupa um lugar importante no desenvolvimento das normas morais, cuja consequência mais impactante pode ser observada na moraljudaico-cristã,cujo efeito mais evidente se encontrana negação da vida natural em detrimento de um Deus sobrenatural,ao qual o homem sempre estará em dívida e com sentimento de culpa.
A genealogia de Nietzsche, em sua estrutura básica, é a história do caráter temporal da vida e dos valores.Ela ajuda a compreender como os valores do presente são moldados pelo passado, um passado que, no entanto, não deve ser tomado como autoevidente devido à nossa herança histórica e àestabilidade alcançada socialmente. O equívoco apontado por Nietzsche,é tomarmos essa estabilidade como uma verdade confiável eimune a mudanças. A história é complexa e permeada de nuances dinâmicas, crenças passadas que foram desafiadas e substituídas por outras crenças que se estabilizaram novamente. A crítica genealógica, exige a revisão das crenças de um passado questionável e clama por um futuro que não falsifique a natureza em nossa história cultural.
Referências
ELGAT, Guy.Nietzsche’s Psychology of Ressentiment: Revenge and Justice in On the Genealogy of Morals. New York: Routledge, 2017.
FREUD, Sigmund. O mal-estar na civilização. São Paulo: Companhia das Letras, 2011.
GIACOIA, Oswaldo. Nietzsche: o humano como memória e como promessa. Rio de Janeiro: Vozes, 2013.
HATAB, Lawrence J. Nietzsche On the Genealogy of Morality: An Introduction. Cambridge: Cambridge University Press, 2008.
ITAPARICA, André. Sobre a gênese da consciência moral em Nietzsche e Freud, Cadernos Nietzsche, v. 30, 2011, pp. 13-32.
NIETZSCHE, F. Samtliche Werke. Kritische Studienausgabe (KSA). Herausgegeben vonGiorgio Colli und Mazzino Montinari. 15 Bände. Berlin: Walter de Gruyter, 1999.
______. Aurora: reflexões sobre os preconceitos morais. São Paulo: Companhia das Letras, 2004.
______. Genealogia da moral:uma polêmica. São Paulo: Companhia das Letras, 1998.
______. Além do bem e do mal: prelúdio a uma filosofia do futuro. São Paulo: Companhia das Letras, 1992.